sábado, 12 de janeiro de 2008


a sensualidade na obra de d’barros

“A arte é a anotação nítida de uma impressão errada (falsa)”

(Fernando Pessoa)

Escrever sobre a escultura na obra de D’Barros, na minha atual situação, não é coisa fácil, mas prazerosa e quem sabe um pouco arriscada. Assim começo a descrever o que minhas mãos e meus olhos podem tocar com o pensamento. E como disse o nosso caro poeta Baudelaire em carta ousada ao senhor Richard Wagner: “Sempre imaginei que um grande artista, por mais que esteja acostumado a gloria, não seria insensível a um elogio sincero”, mesmo porque, para aquele crítico X, com toda sua pose de crítico (esquecendo, talvez, que toda e qualquer manifestação de arte é uma expressão de cultura), e muitas vezes, absurdo de crítico que ele representa ser, ao reconhecer um artista e sua obra, limita-se a crítica acadêmica e a cátedra, esquecendo a emoção e o sensacionismo que levou o artista a escrever ou a esculpir suas obras.

O sensacionismo ao qual me refiro e ora me confronto inquieto na obra do Sr. D’Barros, expressa-se pela leveza, simplicidade e sensualidade através do ritmo de suas mãos quando tocam o barro, fazendo com que suas mulheres de barro ou bronze dialoguem entre si, conduzindo o imaginário do expectador, deixando-o suscetível à interpretação. As manifestações mentais as quais objetivo, pois se as faço é no espaço e no tempo, interpreto-as naquilo do que posso chamar de devaneio ou crítica:

“chega mais perto. Contempla a cegueira loquaz da mulher sentada e silenciosa, cravando unhas na cabeça do gato. As patas do gato se confundem com as pernas da mulher enquanto o rabo penetra a vulva da mulher sem pés. E ao sol, caminham, agora, não mais a mulher e seu gato, a mulher é cega e não têm pés, o gato agora já faz parte do universo fazendo pipi de barro, quem sabe?

Observa a luz que desliza sobre o nu na pele-bronze de três ninfas que em silêncios dialogam enquanto seus estáticos movimentos as conduzem paralém do sorriso! E, sem sorriso, deslizam através dos seios para um rio de ouro que deságua no nada. Enquanto a mãe aconselha segredos, ritos infindos, aos filhos mais novos, paralisados no tempo, revestidos de poeira.”

Luiz Gonzaga Xavier (o D’Barros), nasceu em São Paulo na cidade de Registro e hoje residente em Fortaleza, utiliza a técnica do barro e do bronze, constrói uma linguagem peculiar e poética, indo da criação ao eterno recriar através desdobramento do artista-operário que ele é, e posso dizer: sua obra, na linguagem da escultura é emotiva e sincera, arte imbuída de sensibilidade.

E que o crítico acadêmico Sr. X vá para o inferno!

Por: josé leite netto

poeta